sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Tomie

O sol brasileiro que seduziu Tomie Ohtake refletiu cedinho no prédio moderno construído pelos filhos arquitetos da grande artista nipo-brasileira. Eu não sei se gosto daquele espelhado cor-de-rosa. Mas hoje gostei. Porque a luz, batendo no prédio, deixou a calçada rosada. Quase pink. Lá dentro, Tomie, de preto, óculos grossos, discreta também na despedida. Do lado de fora, o moço das coroas de flores não aderiu à comoção elegante.
- Vai, Corinthians.
Gritou, para um conhecido, entre uma entrega e outra.
Velho de guerra, um jornalista frilando falou sobre os velórios memoráveis de sua trajetória: Tancredo e Senna. O tom ácido, tão frequente nas redações, não escondeu de todo o orgulho. Ele fez parte da história.
Um dos filhos entrou numa obra de arte interativa para falar às tvs. Um jovem mostrou as tatuagens. Ergueu a barra da calça para mostrar. José Possi Neto seguiu a fila dos pêsames. Uma jovem oriental saiu apressada. Olhos vermelhos.
Li numa homenagem em rede social uma ótima definição para a artista: era a síntese de São Paulo.
Era sim, era muito isso.
E vai continuar.
Ontem à noite, a tradicional Caminhada Noturna das quintas-feiras foi mais sensacional do que as outras todas. Os caminhantes marcaram encontro com a banda do Sindicato dos Músicos, que abre o Carnaval na cidade.
Velhos músicos tocaram marchinhas também  antigas e todo mundo cantou e dançou no centrão belo, desesperado, sujo e fascinante. Bem na nossa frente, um painel colorido da artista, na Ladeira da Memória.
Ela gostaria da cena, acho eu.
E do rosa na calçada. Também do dia quente. 
Hoje o sol esquentou São Paulo. Sol de Tomie.