Apesar
do meu grande amor por Cazuza, pintou uma dúvida na hora de resolver
se assistiria ou não “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz. O Musical”,
em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. O primeiro
motivo é óbvio: está caro ir ao teatro. O segundo é mais ou menos
óbvio: os musicais estão na moda e alguns são melhores na
divulgação do que no conteúdo. Terceiro motivo, acho que bem
compreensível também: é difícil confiar nas críticas hoje em dia
(e talvez sempre tenha sido). Então, a gente nunca sabe o que é bom
ou não.
Enfim...
O
fato é que o amor da antiga adolescência venceu o medo. E fui ver
“Cazuza”. O resultado: voltaria mais uma, duas, três vezes.
Talvez
seja uma sensação de quem viveu aquilo tudo. Não esqueço o dia em
que o cantor e compositor morreu. Não era para ser um susto. Com
Aids, ele estava muito mal. A revista “Veja” estampara em sua
capa uma foto chocante, com título ainda mais chocante e texto que
fez o artista passar mal e precisar ser socorrido, como conta a peça.
Mesmo
assim, dei um grito espantado e machucado ao ouvir, pela TV, a notícia sobre a morte. Ali
terminou, oficialmente, minha adolescência. Já havia acabado há
alguns anos, mas foi nesse dia que acabou de vez. E isso dói.
Encantada
pelo espetáculo já nos primeiros minutos, pensei: mas o que faz
esse musical ser melhor do que os outros? No caso de “Cazuza”, o
despudor é uma boa explicação. Por decisão de Lucinha Araújo, a
mãe onipresente, a vida de Cazuza é um livro aberto. Portanto,
estão na peça os escândalos, o uso de drogas, os grandes amores
gays e até mesmo a agressividade assustadora do poeta em seus
últimos anos de vida.
Outra
explicação é o grande talento dos jovens atores, músicos e
dançarinos. É muito animador ver garotos e garotas brilharem no
palco. Assisti ao espetáculo num dia em que Bruno Narchi
interpretava Cazuza. Ele alterna as apresentações como Emílio
Dantas, consagrado pelo papel no teatro. Bruno é excelente. Não
ficou tão famoso como o colega, pelo menos por enquanto. No entanto,
também impressiona com a voz e os trejeitos do cantor.
Entendi
que o fato de dois atores encarnarem tão bem Cazuza está
relacionado a um bem sucedido trabalho de equipe e não ao fato do
espírito do cantor baixar em dois artistas diferentes, em dias
alternados. Bruno fica parecido com Cazuza no início da fama, quando
o artista era um garoto lindo, no meio da trajetória, já afetado
pela Aids, e no final, bastante enfraquecido, esquelético, com a voz
fraca e na cadeira de rodas. Ou seja, ali há um incrível trabalho
de preparação do ator, direção, maquiagem e iluminação.
Trabalho de equipe. Mesmo.
Assistir
à peça foi também um reencontro com Cazuza. O poeta da minha
geração teve apenas oito anos de carreira, deixou uma obra
memorável, mas não tão vasta e, talvez, um pouco datada. Durante
um tempo, parei de ouvir. No reencontro, resgatei emoções,
traduzidas em fortes arrepios em vários momentos do musical.
Como
são bons esses arrepios.
Aqui, uma das minhas canções preferidas, "Blues da Piedade"
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