domingo, 14 de setembro de 2014

Reencontro com Cazuza


Apesar do meu grande amor por Cazuza, pintou uma dúvida na hora de resolver se assistiria ou não “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz. O Musical”, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. O primeiro motivo é óbvio: está caro ir ao teatro. O segundo é mais ou menos óbvio: os musicais estão na moda e alguns são melhores na divulgação do que no conteúdo. Terceiro motivo, acho que bem compreensível também: é difícil confiar nas críticas hoje em dia (e talvez sempre tenha sido). Então, a gente nunca sabe o que é bom ou não.

Enfim...

O fato é que o amor da antiga adolescência venceu o medo. E fui ver “Cazuza”. O resultado: voltaria mais uma, duas, três vezes.

Talvez seja uma sensação de quem viveu aquilo tudo. Não esqueço o dia em que o cantor e compositor morreu. Não era para ser um susto. Com Aids, ele estava muito mal. A revista “Veja” estampara em sua capa uma foto chocante, com título ainda mais chocante e texto que fez o artista passar mal e precisar ser socorrido, como conta a peça.

Mesmo assim, dei um grito espantado e machucado ao ouvir, pela TV, a notícia sobre a morte. Ali terminou, oficialmente, minha adolescência. Já havia acabado há alguns anos, mas foi nesse dia que acabou de vez. E isso dói.

Encantada pelo espetáculo já nos primeiros minutos, pensei: mas o que faz esse musical ser melhor do que os outros? No caso de “Cazuza”, o despudor é uma boa explicação. Por decisão de Lucinha Araújo, a mãe onipresente, a vida de Cazuza é um livro aberto. Portanto, estão na peça os escândalos, o uso de drogas, os grandes amores gays e até mesmo a agressividade assustadora do poeta em seus últimos anos de vida.

Outra explicação é o grande talento dos jovens atores, músicos e dançarinos. É muito animador ver garotos e garotas brilharem no palco. Assisti ao espetáculo num dia em que Bruno Narchi interpretava Cazuza. Ele alterna as apresentações como Emílio Dantas, consagrado pelo papel no teatro. Bruno é excelente. Não ficou tão famoso como o colega, pelo menos por enquanto. No entanto, também impressiona com a voz e os trejeitos do cantor.

Entendi que o fato de dois atores encarnarem tão bem Cazuza está relacionado a um bem sucedido trabalho de equipe e não ao fato do espírito do cantor baixar em dois artistas diferentes, em dias alternados. Bruno fica parecido com Cazuza no início da fama, quando o artista era um garoto lindo, no meio da trajetória, já afetado pela Aids, e no final, bastante enfraquecido, esquelético, com a voz fraca e na cadeira de rodas. Ou seja, ali há um incrível trabalho de preparação do ator, direção, maquiagem e iluminação. Trabalho de equipe. Mesmo.

Assistir à peça foi também um reencontro com Cazuza. O poeta da minha geração teve apenas oito anos de carreira, deixou uma obra memorável, mas não tão vasta e, talvez, um pouco datada. Durante um tempo, parei de ouvir. No reencontro, resgatei emoções, traduzidas em fortes arrepios em vários momentos do musical.


Como são bons esses arrepios.

Aqui, uma das minhas canções preferidas, "Blues da Piedade" 


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