sábado, 3 de janeiro de 2015

'Tim Maia', no teatro, foi o melhor musical

Sou praticamente uma fanática por Elis Regina. Considero a voz da cantora gaúcha uma das melhores de todos os tempos, no mundo inteiro. Junto a isso, ela era capaz de interpretações inacreditáveis. Tinha talento também para o teatro, dizem alguns especialistas. Acho que sim. Mas não só. Era uma artista que sentia de fato as letras. Então chorava, era irônica, debochada, gargalhava, tudo isso sem perder a qualidade. Além de tudo, teve enorme capacidade de escolher bem os compositores que interpretaria. E sorte por ter nascido na era musical em que nasceu.

Mesmo assim, "Elis, a musical" está apenas no terceiro lugar entre os musicais que assisti nos últimos tempos. Para o segundo lugar, escolhi "Cazuza - pro dia nascer feliz". E em primeiro, "Tim Maia - Vale Tudo". Por que? Questionei, sozinha, o meu próprio ranking. Cheguei a algumas conclusões:

1 - Os musicais sobre as vidas de Tim e Cazuza não escondem nada. As drogas e os efeitos delas são retratadas com fidelidade. A dificuldade de lidar com as personalidades complexas e difíceis também. Os rompantes, a irresponsabilidade, as fases decadentes, idem. São musicais mais completos, mais emocionantes. Em "Elis", nem tudo é retratado. A morte, do jeito que foi, por exemplo. E Elis, o mito, tem muito a ver com a morte do jeito que foi. Aos 36 anos, numa overdose acidental, no auge da carreira, com filhos pequenos e começando uma nova fase profissional e pessoal. Eu ainda não tinha idade ou inteligência suficiente para gostar de Elis quando ela partiu. Mas não esqueço a comoção geral daquele dia. Pular isso, portanto, é optar por deixar a história capenga.

2 - O talento fora do comum da cantora deixou um legado único. Ninguém se iguala a Elis. As duas intérpretes (Laila Garin e Lilian Menezes se revezam no musical) são brilhantes, mas cantar como Elis... É impossível. Por mais consciência que os fãs tenham disso, fica um gostinho de frustração. Não é muito bacana admitir. Mas fica sim.

3 -  Cazuza é um artista da minha adolescência. Eu amava Cazuza. Queria ter visto as baixarias dele no Baixo Leblon. Ainda não aceitei a morte precoce. Com o tempo, percebi que o cantor e compositor deixou uma obra pequena e algumas canções datadas. Em compensação, outras são eternas. Como "Codinome Beija-Flor", uma das minhas preferidas. Ver tudo de novo, numa produção teatral impecável, foi demais para o meu pobre coração.

4 - Não assisti o Tim Maia feito pelo neto de Silvio Santos. Quando fui ver o musical, o intérprete da vez era Danilo de Moura. Sensacional. Pensei: será mesmo que Tiago Abravanel supera esse outro ator tão talentoso? Como não vi os dois em cena, fica a dúvida. E uma constatação: na aparência, na musicalidade e até no vozeirão, temos vários Tins. Os dois do filme, os dois do teatro, uns que fazem shows e ganham a vida sendo Tim Maia. Claro, o compositor, o ritmista, o louco, foi apenas um.

5 - "Tim Maia-Vale Tudo" era quase um show. A plateia terminava dançando e cantando. Danilo Moura achou aquilo um tesão. E quem não acharia?

6 - Assisti o musical sobre Tim ao lado de um tijucano. Ele vibrava. "Falaram sobre a minha rua". "Conheço esse lugar". "Estudei nessa escola". Um bairro em que viveram Tim, Roberto e Erasmo, entre outros, só pode ser o máximo. Desde então - e também por outras razões - sou louca pela Tijuca que ainda não conheço.    

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