segunda-feira, 3 de março de 2014

O charme irresistível da Urca

O Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e as famosas praias Ipanema e Copacabana fazem parte de todos os roteiros tradicionais de turismo no Rio de Janeiro. Realmente merecem a visita. Mas o Rio tem mais, muito mais. Um exemplo fica aos pés do Pão de Açúcar: a Urca, bairro bucólico e com paisagem espetacular. A Praia Vermelha, no bairro, está na música do Tim Maia, mas não nas listas mais óbvias de passeios. Melhor assim, longe da muvuca. É uma praia pequena, sem a badalação de Ipanema, a estrutura de Copacabana e a sofisticação do Leblon. As atrações, no entanto, são inquestionáveis, como a vista do Pão de Açúcar, o mar tranquilo, o clima propício ao descanso e o acesso a uma das belas surpresas do Rio: a pista Cláudio Coutinho, também conhecida como Caminho do Bem-te-vi. Localizada à beira mar, cercada de vegetação, a pista tem 1,2 km de extensão e uma beleza quase inacreditável. Um tesouro que os cariocas espertos aproveitam bem. Inaugurada pelo Exército no final da década de 1980, a pista com o nome do ex-treinador da seleção brasileira é tão agradável que até quem não é fã de longas caminhadas aprecia andar por ali. Não cansa, é sério. Depois da caminhada, a dica é seguir o passeio pelas ruas bem cuidadas da Urca. É uma marca do bairro o capricho nas fachadas das casas e a baixa tolerância dos moradores aos “invasores” que ameacem o clima de paz. Entre os que escolheram o bairro para viver, um rei: Roberto Carlos, morador da cobertura do edifício Golden Bay, na avenida Portugal. É comum quem vê o prédio pela primeira vez pensar que falta glamour. Nada disso. Roberto não é bobo não. De seu apartamento, ele vê aquele marzão todo, o Aterro do Flamengo e o Centro do Rio. Nas proximidades do Golden Bay fica a charmosa Igreja Nossa Senhora do Brasil, famosa por ter a preferida do cantor e compositor. Vez ou outra, Roberto canta nas missas. Dá para entrar e conhecer melhor o templo de arquitetura neocolonial, com traços de arte mexicana. Um pouco mais de caminhada e outro encontro fascinante do ponto de vista histórico: o antigo prédio do Cassino da Urca, que já foi também Hotel Balneário, construído na década de 1920. Símbolo da vida cultural brasileira nas décadas de 1930 e 1940, o cassino começou a funcionar no local em 1933 e recebe artistas como Carmen Miranda e Dalva de Oliveira. O prédio também já foi sede da TV Tupi, após a proibição do jogo no Brasil. O Rio deve ao ex-cassino uma obra de restauração e a preservação. Quem não gostaria de percorrer as salas de um prédio com tantas memórias? Fica no bairro, na avenida São Sebastião, 131, a última casa de Carmen Miranda no Brasil, antes de mudar para os Estados Unidos. É uma casa particular, não aberta a visitas. Ainda na Urca, a Fortaleza de São João
é nada menos do que o local em que Estácio de Sá desembarcou em 1565 para reintegrar a ocupação territorial de Portugal, na luta contra os franceses. Ali, em local com visão privilegiada da Baía de Guanabara, construiu um forte e fundou o Rio de Janeiro. A presença militar é uma das marcas da Urca. Ficam no bairro a Escola de Guerra Naval, o Instituto Militar de Engenharia, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, a Escola Superior de Guerra e o Centro de Capacitação Física do Exército. Depois de percorrer o bairro, outra delícia da Urca é tomar cerveja na mureta que separa o bairro do mar e é improvisada como apoio para os copos. O Bar da Urca (rua Cândido Gaffrée, 205) é o mais famoso do pedaço – e lota nos finais de semana. A dica é aproveitar a vista do lado de fora mesmo, saboreando petiscos, salgados e, claro, cerveja gelada. Tudo o que o carioca gosta. E quem não?
Nas fotos, o delicioso fim de tarde na mureta do Bar da Urca e a Fortaleza de São João vista do bairro. As fotos são do Bar da Urca (www.bardaurca.com.br)

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